20-03-2017
Categorias se unem contra EAD em Saúde
Governo federal pode autorizar a qualquer momento cursos a distância; leia, na íntegra, reportagem do jornal "O Dia"

A pedido de instituições privadas e aliados políticos, o presidente Michel Temer tem em suas mãos um decreto para ser assinado que autoriza o ensino a distância, o popular EAD, em 100% para os cursos de saúde, o que já é realidade em outras áreas, como Administração e Ciências Contábeis.

A ideia é recebida com indignação pelos integrantes das categorias da área de saúde. No último dia 24 eles representantes dos conselhos federais e estaduais ligados à área de saúde estiveram reunidos em Brasília para tratar do risco que é o ensino a distância.

A deliberação das categorias foi de que elaborariam um documento e que, em cada Estado, elas buscariam apoio junto aos seus representantes nas respectivas bancadas federais.

A presidente da Comissão de Ensino do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (CRF/AL), Mônica Meira, lembra que a ideia é mobilizar os estudantes, representantes de classe, centros acadêmicos e sindicatos da categoria para que esse decreto não seja assinado pelo presidente. “Vamos confeccionar um documento para levar ao Ministério da Educação, ao Inep e fazer um movimento junto a bancada federal de Alagoas para que eles se sensibilizem com a causa”, destaca.

Disciplina técnica precisa ser 100% presencial

“Farmácia é um curso em que a prática está muito presente, é atendimento, exames bioquímicos, leitura de lâminas, nosso princípios ativos, entre outros, e o ensino a distância não se adequada a nossa formação profissional”, afirma o presidente do CRF/AL, Alexandre Correia, lembrando que a Farmácia há 117 áreas de atuação.

É consenso entre os profissionais de que 20% das disciplinas possam ser ofertadas na modalidade EAD, como é sugerido atualmente. Esta cota ficaria reservada para disciplinas de caráter mais teórico. Já as disciplinas mais técnicas, como por exemplo, semiologia, que trata dos sinais e sintomas das doenças, teriam que ser 100% presenciais.

“Diabéticos que convivem há anos com a doença e estão acostumados a fazer o teste diariamente com o aparelho em casa erra o teste de glicemia, imagine alguém que não foi treinado adequadamente, que aprendeu via vídeos? Isso vai na contramão da qualidade”, compara Correia.

Ele destaca que os profissionais de Farmácia tem se destaca nas equipes multidisciplinares como figuras importantes no tratamento dos pacientes, otimizando o trabalho em hospitais e evitando o uso de medicamentos inadequados. “Num momento tão rico para nossa categoria, de valorização justamente pela qualidade de nossa formação, pelo conhecimento adquirido pelos nossos profissionais, que estão nos hospitais, nos laboratórios, desenvolvendo cosméticos, formando 6 mil farmacêuticos por ano, com 200 mil profissionais registrados no país, não temos déficit, o que não justifica curso EAD”, assinala.

Correia lembra que o curso a distância vai na contramão da humanização do atendimento ao paciente. “Como vai atender se nunca atendeu? No dia a dia do curso o aluno aprende técnicas de abordagem, ética, sensibilidade, passar segurança. Só aprende na prática”, defende.

 

 

Algumas escolas não deveriam nem funcionar

Outra categoria que tem batalhado contra o modelo EAD é a Enfermagem. Segundo a presidente do Conselho Regional de Enfermagem em Alagoas (Coren/AL), Zandra Candiotti, a qualidade de assistência e de formação são essenciais na área de saúde.

“O profissional com deficiência em seus princípios técnicos, científicos, humanísticos oferecem os riscos da imperícia, imprudência e negligência em todas as ações que desenvolvem desde as mais elementares até as mais complexas, submetendo a quem é cuidado risco de incapacidade física e de morte. 90% dos processos éticos da gestão 2015-2017 guardam relação direta com ações decorrentes de desconhecimento de aspectos éticos, morais, técnicos ou científicos”, revela.

O Coren/AL, a pedido do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) visitou as 11 escolas de graduação e as três escolas de nível médio existentes em Alagoas para verificar a estrutura física, em especial a estrutura laboratorial e os convênios.

“Os pólos que se propuseram a formação desses profissionais pelo sistema de EAD não conseguiram formar turmas de graduação e apenas uma de técnico em enfermagem está sendo processada. Nosso entendimento é de que a forma como algumas escolas estão desenvolvendo seus currículos, ditos presenciais, adotam as medidas do EAD de forma conveniente financeiramente, mas danosa a sociedade e por isso, irresponsável vez que pratica redução gritante de carga horária prática, e em muitas disciplinas apenas disponibilizam essa aspectos no estágio curricular obrigatório em unidades de saúde saturadas de estudantes de diversas escola e com supervisão discreta, periódica e sensivelmente incapaz de supri as necessidades do estudante que não passou pela prática em laboratório e muito menos em unidades de saúde. Esses fatos são comprovados, está sendo feito com anuência de docentes, enfermeiros, que devem ter como justificativa a necessidade de sobrevivência ou o desconhecimento de fatos maiores relativos as responsabilidade com a qualidade da assistência prestada a sociedade. Esses são os prejuízos da formação de péssima qualidade: profissionais incapazes, população quando assistida, correndo riscos de vida pela imperícia”, denuncia.

 

Fonte: O Dia (Alagoas)