02-04-2019
Coren-MT admite dificuldades e cita esforço para melhorar qualidade de vida
Presidente do Coren-MT reconheceu que as condições de trabalho podem influenciar no desenvolvimento da depressão

O presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT), Antônio César Ribeiro, reconheceu que as condições de trabalho em que atuam os profissionais de Enfermagem podem influenciar no desenvolvimento da depressão.

O debate veio à tona após suicídio da enfermeira Anna Angélica Dorileo, no último sábado (23). Ele cita que a categoria trabalha em situações extremamente desgastantes do ponto de vista físico e emocional. Contudo, pontuou os projetos de lei que tramitam na Câmara Federal para reduzir a jornada de trabalho, garantir piso salarial, descanso digno e aposentadoria especial.

“Eu sou enfermeiro e entendo o suicídio como uma doença social. Não tem um único fato associado ao suicídio. Via de regra, está sempre vinculado a um processo de depressão. Esse processo de depressão, dependendo do meio onde eu vivo, essa minha doença pode melhorar ou piorar”, disse em entrevista ao Olhar Direto.

No domingo, o conselho publicou nota de pesar após o falecimento da enfermeira e foi cobrado nos comentários de uma rede social. Antônio César responde que atribuir o suicídio como responsabilidade do Coren é exagero. “Primeiro, eu não posso dizer que ela se suicidou porque é enfermeira e as condições dela não são adequadas. Ela se suicidou porque tem um problema, que é dela, pessoal, que talvez o contexto que ela trabalhe não tenha favorecido. Não podemos afirmar uma ligação direta entre o suicídio e sua profissão”, afirmou.

O presidente reconhece as más condições de trabalho e as situações físicas e emocionais em que os profissionais são submetidos. Cita como exemplo a falta de insumos básicos nos hospitais e também a ausência de locais adequados para descanso. “Faltam medicamentos, estrutura, material, condições de repouso intrajornada, que é um direito do trabalhador. Se você olhar as condições de repousos nos hospitais para aqueles trabalhadores que estão no plantão de 12 horas, são sub-humanas”, afirma.

Em busca de melhores condições de trabalho para a categoria, o presidente cita os projetos de lei em tramitação como, por exemplo, o que visa diminuir a jornada de trabalho de 44 para 30 horas semanais. No entanto, ele aguarda desde 1999 para ser votado no Congresso Nacional. Os profissionais também lutam para estabelecer um piso salarial.

Outra melhoria seria a aprovação Projeto de Lei 4998/16, oriundo do Senado, que obriga as instituições de Saúde públicas e privadas, como hospitais e clínicas, a oferecer condições adequadas de repouso, durante o horário de trabalho, aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem e às parteiras. O objetivo é preservar a integridade física dos profissionais de Enfermagem e dos pacientes por eles atendidos.

Também aguardando votação está o projeto de lei que estabelece a aposentadoria especial para profissionais de Enfermagem. A proposta prevê que os profissionais possam se aposentar com benefício integral depois de 25 anos de contribuição na área de Enfermagem, uma vez que eles exercem atividade com riscos físicos e biológicos.

Após divulgação de uma nota de pesar do Coren, grande parte dos comentários eram de pessoas cobrando fiscalizações e estudos psicológicos sobre os profissionais. O presidente citou um estudo em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para avaliar o perfil e qualidade de vida dos profissionais após os 60 anos de idade. “Sabemos do desgaste e temos investido nessa pesquisa. O resultado dela é uma forma do conselho melhorar a sua atuação política”, acrescentou.

 

Fonte: Olhar Direto